O E$pírito das Leis https://oespiritodasleis.blogfolha.uol.com.br Thu, 13 Dec 2018 11:46:25 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Começou a campanha (e que venham os dados!) https://oespiritodasleis.blogfolha.uol.com.br/2018/08/17/comecou-a-campanha-e-que-venham-os-dados/ https://oespiritodasleis.blogfolha.uol.com.br/2018/08/17/comecou-a-campanha-e-que-venham-os-dados/#respond Fri, 17 Aug 2018 11:01:02 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg https://oespiritodasleis.blogfolha.uol.com.br/?p=443 Primeira relação de candidatos divulgada pelo TSE indica que partidos apostam na disputa pela Câmara para ampliar o poder ou simplesmente sobreviver

Com o início do período eleitoral, começam a sair os primeiros dados oficiais sobre o perfil dos candidatos aos cinco cargos em jogo neste ano: presidente da República, governadores, senadores (neste ano são duas vagas), deputados federais e deputados estaduais.

A análise da relação de candidatos revela que os partidos, em geral, lançam um número muito grande de candidatos – a maioria deles sem qualquer chance de ser eleito, dadas as características de nosso sistema eleitoral, que torna nossas eleições muito caras.

No gráfico abaixo é possível ver que o campeão em lançar candidatos em 2018 é o PSL, partido do candidato a presidente Jair Bolsonaro. Por se tratar de um partido com estrutura mínima e pouca tradição eleitoral, delineia-se aí uma estratégia bem traçada de compensar o orçamento limitado e o pouco espaço no horário eleitoral no rádio e na TV lançando milhares de correligionários para fazer propaganda para seu candidato a presidente Brasil afora.

Esse jogo, aliás, tem mão dupla: com a força midiática de Bolsonaro, o partido aposta na ampliação de sua bancada no ano que vem, por meio de novos deputados eleitos a reboque do seu mito.

A propósito, comparando-se o número de candidatos por cargo entre 1998 (alô, TSE, os dados de candidatos de 1994 estão incompletos!) e 2018, percebe-se que os partidos têm, ao longo do tempo, buscado concentrar seus esforços em construir uma boa bancada no Congresso, especialmente na Câmara.

Tanto é assim que, muito mais nítido do que a tão propalada fragmentação do número de candidatos a Presidente neste ano (a maior desde 1989), o que mais me chama a atenção no gráfico abaixo é que o número de postulantes a uma cadeira de deputado federal mais do que dobrou nos últimos anos – além de ter crescido de 2014 para 2018.


Esse dado revela um movimento dos partidos priorizando a disputa na Câmara para ampliar seu poder de barganha – ou simplesmente sobreviver politicamente. Dadas as características de nosso presidencialismo de coalizão, possuir um número expressivo de deputados e senadores no Congresso significa poder e dinheiro: cargos em comissão no Executivo e em estatais, liberação de verbas orçamentárias, poder para indicar relatores e membros de comissão em projetos de interesse de empresas e grupos de pressão. Sem falar no varejão do toma-lá-dá-cá das votações de propostas enviadas pelo Executivo.

No pleito de outubro, temos uma novidade que torna a eleição para a Câmara ainda mais importante para os partidos. Em função da aprovação da Emenda Constitucional nº 97/2017, a partir do ano que vem só receberão recursos públicos e terão direito a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV os partidos que, no dia 07/10, elegerem pelo menos 9 deputados federais ou atingirem no mínimo 1,5% dos votos válidos em todo o território nacional e mais 1% em pelo menos nove Estados ou no Distrito Federal.

A chamada “cláusula de desempenho”, portanto, é fundamental para a sobrevivência de dezenas de partidos pequenos – muitos deles meras siglas de aluguel, que vivem como parasitas no sistema eleitoral.

O gráfico abaixo mostra que muitos desses partidos pequenos buscaram lançar um número maior de candidatos a deputado federal em 2018, possivelmente buscando escapar da navalha da “cláusula de desempenho”.

Ao longo do período eleitoral, e à medida em que os dados forem sendo divulgados pelo TSE, espero trazer novas reflexões sobre a dinâmica do processo eleitoral aqui no blog. Aproveito para fazer uma auto-promoção: a partir da próxima segunda-feira, dia 20/08, e até o final do segundo turno, escreverei uma coluna semanal na Folha comentando os interesses em jogo nesta que promete ser uma das eleições mais emocionantes dos últimos tempos. Convido todos a acompanhar, tanto no blog quanto no jornal impresso, essas análises. Até mais!

 

Post anterior: O trem da alegria de Jucá e Randolfe

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Nos autos da Lava Jato, o mapa para entender a política no Brasil https://oespiritodasleis.blogfolha.uol.com.br/2018/05/18/nos-autos-da-lava-jato-o-mapa-para-entender-a-politica-no-brasil/ https://oespiritodasleis.blogfolha.uol.com.br/2018/05/18/nos-autos-da-lava-jato-o-mapa-para-entender-a-politica-no-brasil/#respond Fri, 18 May 2018 05:00:36 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://oespiritodasleis.blogfolha.uol.com.br/?p=363 Abertura de inquérito contra a cúpula do MDB no STF revela como funciona o presidencialismo de coalizão brasileiro

No fim das contas
Estamos dando voltas
Num círculo vicioso
Perigoso para o sistema nervoso
(“Círculo Vicioso” – Rita Lee, Carlini e Marcucci)

 

Sérgio Machado é um político experiente. Membro fundador do PSDB, transferiu-se depois para o (P)MDB. Ocupou cargos importantes nos governos FHC, Lula e Dilma. Foi deputado e senador, além de presidente da Transpetro, a estatal de transporte de petróleo e gás da Petrobrás, de 2003 a 2014.

A trajetória de Sérgio Machado o credencia a apresentar um diagnóstico abalizado sobre o funcionamento do sistema político brasileiro. E ele está no Termo de Colaboração nº 01, firmado com o Ministério Público Federal no âmbito da Operação Lava Jato.

“Desde 1946 o sistema funciona com três instâncias: 1) políticos indicam pessoas para cargos em empresas estatais e órgãos públicos e querem o maior volume possível de recursos ilícitos, tanto para campanhas eleitorais, quanto para outras finalidades; 2) empresas querem contratos e projetos e, neles, as maiores vantagens possíveis, inclusive por meio de aditivos contratuais; e 3) gestores de empresas estatais têm duas necessidades, uma a de bem administrar a empresa e outra a de arrecadar propina para os políticos que os indicaram”.

Na opinião de Sérgio Machado, nenhum dirigente se mantém no cargo se não dançar conforme essa música. Ele próprio permaneceu na presidência da Transpetro de junho de 2003 a novembro de 2014 dando corda a esse sistema. O delator admite ter intermediado a distribuição de mais de 100 milhões de reais para os caciques do MDB que o indicaram ao cargo. Em sua lista de beneficiados estão José Sarney (18,5 milhões), Romero Jucá (21 milhões), Renan Calheiros (32 milhões), Edison Lobão (24 milhões) e Jader Barbalho (3 milhões em espécie).

Além da cúpula do MDB do Senado, uma série de outros políticos, de diferentes partidos, teriam sido agraciados, do PT (Cândido Vaccarezza) e PC do B (Jandira Feghali) ao PSDB (o falecido senador Sérgio Guerra, que presidiu o partido de 2007 a 2013), passando inclusive pelo presidente Michel Temer.

Parte dessas propinas teria sido distribuída em espécie, contratos forjados ou transações no exterior. Um montante considerável chegou às campanhas eleitorais por meio de doações oficiais feitas pelas empreiteiras que alimentavam o esquema na Transpetro: Queiroz Galvão, Camargo Corrêa, Galvão Engenharia, entre outras.

Na última quarta-feira, o ministro Edson Fachin autorizou a abertura de inquérito contra a cúpula do MDB, tendo como base as denúncias de Sérgio Machado, Joesley Batista e outros elementos obtidos nas investigações da Lava Jato.

Além de fornecerem a base para os processos criminais, as revelações extraídas nas delações ajudam a interpretar o funcionamento da política brasileira. A Operação Lava Jato teve o mérito de extrair depoimentos de peças-chave do maior mecanismo de corrupção até hoje descoberto no país: a começar pelos financiadores (a cúpula das maiores empreiteiras do país e do maior dos “campeões nacionais”, o grupo JBS), passando pelos operadores do sistema (de doleiros como Lúcio Funaro a marqueteiros como João Santana) e chegando a políticos como Sérgio Machado e Delcídio do Amaral.

O ponto mais interessante é que a narrativa dos delatores apresenta incrível verossimilhança quando coletamos e analisamos os dados oficiais sobre financiamento eleitoral e produção legislativa no Brasil dos últimos anos. Esse foi o desafio a que eu me propus ao escrever o livro “Dinheiro, Eleições e Poder: as engrenagens do sistema político brasileiro”, que sairá em breve pela Companhia das Letras.

Entremeando histórias extraídas das delações da Lava Jato com uma montanha de dados sobre doações de campanha, resultados de eleições e a tramitação de projetos no Congresso, procuro mostrar como a política brasileira é capturada por interesses venais de políticos poderosos e grandes grupos econômicos.

Caciques políticos se formam na política brasileira sobretudo pelo potencial de arrecadar dinheiro para o seu partido. E nessa tarefa ninguém é tão eficiente quanto o MDB. No gráfico abaixo consta o valor captado pelos diretórios nacional e estaduais do partido junto a empresas, indivíduos e ao Fundo Partidário nas eleições de 2014. Nele está a chave para entender o inquérito recém-aberto no STF contra a cúpula do partido.

O gráfico apresenta a distribuição da arrecadação do PMDB nas eleições de 2014 por diretórios nacional e estaduais
Fonte: Elaboração própria a partir de dados do TSE (Repositório de Dados Eleitorais)

No gráfico é possível ver que o maior montante, obviamente, foi obtido pelo Diretório Nacional do partido, que arrecadou, em valores atuais, quase 255 milhões de reais. Em seguida vieram os diretórios estaduais do Rio de Janeiro (156 milhões), Ceará (56 milhões), Rio Grande do Norte (51 milhões), Amazonas (41 milhões), Alagoas (35 milhões) e Roraima (31 milhões).

Se você estranhou o fato de que estados com baixa representatividade na economia e no tamanho do eleitorado têm um papel tão destacado na coleta de contribuições de campanha do MDB, é só se lembrar de quais são as figuras mais proeminentes do partido no cenário político atual, todos eles às voltas com a Lava Jato: o presidente Michel Temer, que comando o partido por anos, seguido por Eduardo Cunha (RJ), Eunício Oliveira (CE), Henrique Eduardo Alves (RN), Eduardo Braga (AM), Renan Calheiros (AL) e Romero Jucá (RR). Bingo!

Essas sete lideranças partidárias tiveram em suas mãos, nas eleições passadas, mais de 600 milhões de reais arrecadas apenas pelas vias oficiais – não estamos falando aqui de caixa dois. Nesse jogo de poder e dinheiro, os caciques regionais dos partidos controlam não apenas o volume de arrecadação, como também o fluxo de distribuição do dinheiro entre os seus correligionários. E a destinação do dinheiro entre os candidatos não é nem um pouco democrática, como pode ser visto abaixo (ao passar o cursor pelo gráfico, é possível identificar com detalhes quanto cada candidato recebeu do respectivo diretório estadual).


Num cenário em que as campanhas foram se tornam cada vez mais caras, não é difícil imaginar porque determinados políticos se tornaram tão poderosos, chegando ao ponto de controlarem verdadeiras bancadas particulares de parlamentares no Congresso e a exigirem uma lealdade que os livrou muitas vezes de serem afastados ou cassados: eles detêm a chave do cofre, e o distribuem da forma como bem entendem.

Esse poder dos caciques sobre sua base parlamentar reflete-se na atratividade que eles exercem sobre o grande empresariado e os grupos de interesses. Em seus depoimentos à força tarefa da Lava Jato, Lúcio Funaro expõe a forma de relacionamento entre os líderes do MDB na Câmara e no Senado no que dizia respeito à tramitação de projetos de lei e medidas provisórias.

Na visão de Funaro, esse grupo de lideranças do MDB se encarregava de mapear o conteúdo e identificar setores econômicos que poderiam se beneficiar com a aprovação das mudanças legais em pauta. Os caciques políticos então designavam algum membro do partido que conduziria as negociações com os executivos do setor interessado, visando o pagamento de propinas via caixa dois ou doações oficiais. Fechava-se, assim, o sistema de engrenagens do sistema político brasileiro e deixando-o pronto para girar novamente, visando o próximo ciclo eleitoral.

A nota fúnebre dessa história é que, mesmo com os processos da Lava Jato e a proibição das doações de empresas, esse mecanismo não foi desarticulado. Os grandes caciques continuam dominando seus partidos como verdadeiros coronéis regionais e as campanhas continuam a movimentar bilhões de reais – a grande diferença é que o dinheiro das empresas foi substituído pelo financiamento público. Também não houve qualquer avanço institucional para combater o caixa dois e o sistema político-eleitoral manteve-se praticamente intacto, sem nenhuma reforma de peso.

Sem combater a origem do problema, pouco adiantará colocar todo mundo na prisão, pois outros virão e ocuparão seu lugar – a começar pelos seus próprios filhos e netos, herdeiros de suas fortunas e de seu poder político. E o sistema continuará a girar a favor da concentração de renda e de poder.

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Uma breve pausa https://oespiritodasleis.blogfolha.uol.com.br/2017/11/22/uma-breve-pausa/ https://oespiritodasleis.blogfolha.uol.com.br/2017/11/22/uma-breve-pausa/#respond Thu, 23 Nov 2017 00:43:07 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://oespiritodasleis.blogfolha.uol.com.br/?p=244 Caros leitores,

Preciso me afastar deste espaço por algumas semanas para terminar de escrever um livro. Trata-se de uma análise sobre as relações entre interesses econômicos, eleições e o exercício do poder no Brasil, temperada com vários relatos da Operação Lava Jato.

Se tudo der certo, estarei de volta ao blog daqui a um mês e o livro sairá no primeiro semestre de 2018.

Caso necessário, meu email (brunocarazza.oespiritodasleis@gmail.com) continuará ativo.

Até a volta!

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