De olho nas propostas nº 05: Política Industrial
Propostas dos candidatos ficam entre o nacional-desenvolvimentismo que deu errado, o vazio premeditado e um aceno ao liberalismo
Com o número de desempregados beirando os 13 milhões (oficialmente) e a economia patinando pelo segundo ano seguinte após mergulhar no precipício entre 2015 e 2016, é importante observar quais são as propostas dos candidatos para a política industrial.
Na tabela abaixo estão compiladas as principais ideias dos presidenciáveis segundo diferentes dimensões: política cambial, comércio exterior, incentivos fiscais, atuação do BNDES, política de conteúdo local e taxa de juros nos empréstimos oficiais.
Analisando o conjunto das proposições, podemos classificar os candidatos em três grupos principais.
Fernando Haddad (PT), Ciro Gomes (PDT) e Guilherme Boulos (Psol) compartilham da mesma visão nacional-desenvolvimentista que foi a marca da famosa Nova Matriz Econômica levada a cargo pela equipe de Guido Mantega.
Intervenção na taxa de câmbio para incentivar exportações, condução de negociações comerciais com objetivos políticos, concessão de créditos subsidiados do BNDES para estimular setores estratégicos e exigência de conteúdo nacional nas compras governamentais são a marca registrada dos três candidatos posicionados na ponta esquerda do campo político. A eles compete o dever de explicar ao eleitorado por que insistem numa estratégia que é apontada como uma das causas da crise atual, e que medidas pretendem tomar para não repetir os erros do passado.
Álvaro Dias (Podemos), Geraldo Alckmin (PSDB) e Henrique Meirelles (MDB) mais escondem do que revelam em seus programas de governo vagos – aliás, chamá-los de “panfletos” seria mais apropriado. No afã de capturar o eleitor do centro, os três candidatos procuram não se comprometer com nada, emitindo frases vazias e lugares comuns. Com muito boa vontade é possível identificar que pretendem estimular a abertura comercial, mas não passa disso. Um grande desrespeito ao eleitor que se dispõem a conhecer seus projetos para além do marketing dos programas de TV e dos posts nas redes sociais.
A coragem para assumir posições por parte de Álvaro Dias, Alckmin e Meirelles não faltou a Jair Bolsonaro (PSL), João Amoêdo (Novo) e Marina Silva (Rede). Os três abraçaram causas liberais, como a abertura da economia (com redução de tarifas), a negociação de acordos bilaterais sem vieses ideológicos, uma ampla revisão das desonerações fiscais concedidas de modo até irresponsável no governo Dilma e o fim do uso do BNDES para promover “campeões nacionais” ou a manutenção da política de conteúdo nacional.
Se por um lado as medidas anunciadas por esse trio de candidatos declaradamente mais liberais alinham-se com a necessidade urgente de promover o aumento da produtividade em nossa economia, resta uma grande dúvida. Será que, uma vez eleitos, Bolsonaro, Amoêdo ou Marina terão força para enfrentar os fortes interesses de nosso empresariado industrial, que, salvo raras exceções, foi cevado ao longo de décadas pela proteção contra a concorrência estrangeira e pelos generosos benefícios fiscais e creditícios concedidos pelo governo?
Bruno Carazza, doutor em Direito e mestre em Economia, é autor de “Dinheiro, Eleições e Poder: as engrenagens do sistema político brasileiro” (Companhia das Letras) e do blog “O E$pírito das Leis”.
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