Sem dinheiro das empresas, pesquisas eleitorais também diminuíram
Apesar da grande incerteza eleitoral, números indicam que o mercado de pesquisas encolheu significativamente depois que STF decidiu proibir as doações empresariais
Não foram apenas os marqueteiros, as gráficas e os produtores de cavaletes que expõem fotos de candidatos retocadas em programas de computador. A proibição de contribuições vindas de pessoas jurídicas teve repercussões até mesmo no mercado de pesquisas, a despeito da forte incerteza que cerca o pleito de outubro.
De acordo com dados fornecidos pelo TSE, é possível verificar que a crise no mercado de pesquisas já se fez sentir quando comparamos as eleições municipais de 2016 – as primeiras após a decisão do STF de vetar as doações de empresas – com as realizadas em 2012. Neste ano parece acontecer o mesmo, como pode ser visto no gráfico abaixo.
Mesmo levando em conta que os dois meses em que tradicionalmente são realizadas muitas pesquisas (setembro e outubro), quando tomamos os dados mensais percebemos uma tendência clara: o desempenho de 2018 está em média 50% abaixo do que foi observado quatro anos atrás. E isso pode ser medido tanto tem termos de receita dos institutos de pesquisa quanto do número de entrevistas realizadas.
Até as eleições de 2014, grandes empresas frequentemente se valiam de pesquisas para escolher quais candidatos e partidos seriam agraciados com suas generosas doações milionárias. Com a proibição do STF, essa fonte secou e a procura por pesquisas certamente caiu. Mas isso não quer dizer que não haja mais interesse empresarial em prever o resultado das eleições.
Tomando a lista dos maiores contratadores de pesquisa em 2018, as Confederações Nacionais do Transporte e da Indústria mantiveram a tradição de permaneceram entre os maiores demandantes. Bancos e corretoras (como a XP Investimentos e o BTG Pactual) apostam nas pesquisas para construir diferentes cenários políticos e econômicos para seus clientes. No outro extremo ideológico, a Central Única dos Trabalhadores e o PT também já aportaram somas consideráveis em enquetes eleitorais neste ano.
Por fim, chama a atenção, na lista, a presença do candidato Henrique Meirelles. De acordo com o TSE, o emedebista goiano já gastou R$ 84 mil do próprio bolso para realizar pesquisas eleitorais. Para quem não avança além do 1% das intenções de voto desde o início da corrida eleitoral, faz sentido tentar descobrir como evitar que as eleições de outubro encerrem, com um retumbante fracasso, uma carreira de tanto sucesso nos setores público e privado.
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Bruno Carazza, doutor em Direito e mestre em Economia, é autor de “Dinheiro, Eleições e Poder: as engrenagens do sistema político brasileiro” (Companhia das Letras).