Partido de rico ou partido de pobre?

Análise de dados preliminares do patrimônio declarado pelos candidatos revela diferenças de perfis entre os partidos

Se alguém te parar na rua e perguntar quanto você ganha, certamente você vai desconversar. Se o seu interlocutor se apresentar como um agente do Estado (um agente do IBGE, por exemplo) você pode até responder um valor, mas certamente ele estará subestimado. Para o Imposto de Renda, entretanto, você provavelmente terá um maior compromisso com a verdade, porque em geral o Fisco tem maiores condições de cruzar informações de diversas fontes e identificar o erro, seja ele de boa ou de má fé.

Com as informações sobre os bens dos candidatos ocorre mais ou menos a mesma coisa. Em vez de realizar um convênio com a Receita Federal e disponibilizar o extrato de bens e direitos do Imposto de Renda dos candidatos (que seria a fonte mais fidedigna, apesar de também ter problemas, como a desatualização dos valores dos imóveis), o TSE exige apenas uma autodeclaração dos candidatos apontando os itens de seu patrimônio e o valor.

Como resultado, os dados divulgados pela corte eleitoral contêm erros e omissões que os tornam menos confiáveis e dificulta bastante o trabalho daqueles que desejam conhecer aqueles que pretendem nos representar no parlamento ou no Poder Executivo.

O problema começa com a disponibilidade dos dados. Dos 28.317 candidatos a todos os cargos em disputa em 2018, somente 17.415 declararam seus bens até o momento (ou 61,5% do total). Nesses, porém, podemos identificar vários problemas, como a duplicação de informações, imóveis bilionários e veículos avaliados em centenas de milhões de reais.

Para tentar oferecer ao leitor uma visão um pouco mais próxima da realidade, eu tomei os dados disponibilizados pelo TSE, suprimi as repetições e dividi por 1.000 os valores de imóveis e veículos muito discrepantes da realidade. De posse desses dados corrigidos, elaborei os gráficos que se seguem para ter um panorama dos partidos brasileiros segundo o patrimônio de seus candidatos.

No gráfico abaixo vemos que há uma aparente clivagem de renda e ideologia se compararmos os seus extremos: partidos com um discurso mais próximo ao mercado (Novo, PSDB, MDB) têm em geral candidatos mais ricos, enquanto legendas de esquerda estão na ponta dos candidatos mais pobres (PSOL, PCO, PSTU e PCB).

 

Um ponto importante a se considerar, aqui, é que o PT há muito não se revela segundo o perfil típico dos partidos de esquerda – cujos candidatos são provenientes da base social, em geral vinculados a pequenos sindicatos e movimentos populares. A mediana do patrimônio declarado pelos petistas situa-se no terço superior da distribuição, ao lado dos partidários de Álvaro Dias (Podemos) e de Jair Bolsonaro (PSL) – duas legendas que se colocam bem à direita no espectro ideológico.

Outra questão que surge do gráfico acima é o fato de que a mediana mais alta pertence ao Novo, dando razão a um discurso, muito presente nas redes sociais vinculadas à esquerda, de que se trata de um partido de ricos.

No entanto, analisando o número individual de grandes milionários por partido, a história muda de figura. Tomando como referência o número de candidatos com patrimônio superior a R$ 5 milhões por legenda, verificamos que a trinca MDB, DEM e PSDB é a que mais tem ricaços em seus quadros (numa média de 40 cada um), enquanto o Novo ocupa apenas a 11ª posição, com 19 candidatos – atrás do PDT de Ciro Gomes.


Vistos de modo conjunto, esses números parecem indicar que, longe de ser um partido de milionários, o Novo é certamente um partido da classe alta, e isso sinaliza para um cenário em que, para se tornar grande no futuro, o Novo tem que se aproximar dos extratos mais baixos da pirâmide de renda do país.

Caso você queira saber como é a distribuição do patrimônio dos candidatos em seu Estado, clique no gráfico abaixo, selecione a UF e passe o cursor do mouse sobre os círculos. Os dados podem não ser totalmente fidedignos, mas é o melhor que o TSE tem a nos oferecer até o momento.

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