Começou a campanha (e que venham os dados!)
Primeira relação de candidatos divulgada pelo TSE indica que partidos apostam na disputa pela Câmara para ampliar o poder ou simplesmente sobreviver
Com o início do período eleitoral, começam a sair os primeiros dados oficiais sobre o perfil dos candidatos aos cinco cargos em jogo neste ano: presidente da República, governadores, senadores (neste ano são duas vagas), deputados federais e deputados estaduais.
A análise da relação de candidatos revela que os partidos, em geral, lançam um número muito grande de candidatos – a maioria deles sem qualquer chance de ser eleito, dadas as características de nosso sistema eleitoral, que torna nossas eleições muito caras.
No gráfico abaixo é possível ver que o campeão em lançar candidatos em 2018 é o PSL, partido do candidato a presidente Jair Bolsonaro. Por se tratar de um partido com estrutura mínima e pouca tradição eleitoral, delineia-se aí uma estratégia bem traçada de compensar o orçamento limitado e o pouco espaço no horário eleitoral no rádio e na TV lançando milhares de correligionários para fazer propaganda para seu candidato a presidente Brasil afora.
Esse jogo, aliás, tem mão dupla: com a força midiática de Bolsonaro, o partido aposta na ampliação de sua bancada no ano que vem, por meio de novos deputados eleitos a reboque do seu mito.
A propósito, comparando-se o número de candidatos por cargo entre 1998 (alô, TSE, os dados de candidatos de 1994 estão incompletos!) e 2018, percebe-se que os partidos têm, ao longo do tempo, buscado concentrar seus esforços em construir uma boa bancada no Congresso, especialmente na Câmara.
Tanto é assim que, muito mais nítido do que a tão propalada fragmentação do número de candidatos a Presidente neste ano (a maior desde 1989), o que mais me chama a atenção no gráfico abaixo é que o número de postulantes a uma cadeira de deputado federal mais do que dobrou nos últimos anos – além de ter crescido de 2014 para 2018.
Esse dado revela um movimento dos partidos priorizando a disputa na Câmara para ampliar seu poder de barganha – ou simplesmente sobreviver politicamente. Dadas as características de nosso presidencialismo de coalizão, possuir um número expressivo de deputados e senadores no Congresso significa poder e dinheiro: cargos em comissão no Executivo e em estatais, liberação de verbas orçamentárias, poder para indicar relatores e membros de comissão em projetos de interesse de empresas e grupos de pressão. Sem falar no varejão do toma-lá-dá-cá das votações de propostas enviadas pelo Executivo.
No pleito de outubro, temos uma novidade que torna a eleição para a Câmara ainda mais importante para os partidos. Em função da aprovação da Emenda Constitucional nº 97/2017, a partir do ano que vem só receberão recursos públicos e terão direito a propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV os partidos que, no dia 07/10, elegerem pelo menos 9 deputados federais ou atingirem no mínimo 1,5% dos votos válidos em todo o território nacional e mais 1% em pelo menos nove Estados ou no Distrito Federal.
A chamada “cláusula de desempenho”, portanto, é fundamental para a sobrevivência de dezenas de partidos pequenos – muitos deles meras siglas de aluguel, que vivem como parasitas no sistema eleitoral.
O gráfico abaixo mostra que muitos desses partidos pequenos buscaram lançar um número maior de candidatos a deputado federal em 2018, possivelmente buscando escapar da navalha da “cláusula de desempenho”.
Ao longo do período eleitoral, e à medida em que os dados forem sendo divulgados pelo TSE, espero trazer novas reflexões sobre a dinâmica do processo eleitoral aqui no blog. Aproveito para fazer uma auto-promoção: a partir da próxima segunda-feira, dia 20/08, e até o final do segundo turno, escreverei uma coluna semanal na Folha comentando os interesses em jogo nesta que promete ser uma das eleições mais emocionantes dos últimos tempos. Convido todos a acompanhar, tanto no blog quanto no jornal impresso, essas análises. Até mais!
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